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Caminhar e abrir espaços

O projeto de exposição de Wilton Garcia “Instalação xxx” aberto no espaço da Caixa Cultural em São Paulo no dia 25 de janeiro é uma provocação. Isto porque em tempos de instrumentalização até das emoções e dos prazeres, a ponto de uma ministra pregar a abstinência sexual como forma de prevenir as DSTs, problematizar a nossa percepção deslocando objetos funcionais para um jogo estético é como cutucar a onça com a vara curta.

Não sei se foi proposital a abertura da exposição ocorrer justamente no dia de aniversário de São Paulo, uma cidade que esconde uma dimensão de subjetividades diversas sob o manto da terra das oportunidades (de ganhar dinheiro e consumir) interpelando os seus cidadãos para uma vida instrumental. Uma cidade que até o sistema de transporte coletivo privilegia os deslocamentos do bairro para o centro, da moradia para o trabalho, e se organiza em guetos forçados (favelas) e voluntários (condomínios fechados). Nem tampouco em ocorrer em um espaço do centro de São Paulo, outrora lugar de encontros e hoje com sinais nítidos de abandono.

Mas em um primeiro andar, aquelas montanhas de papel semelhante as que se encontram nas calçadas e nas ruas interpelam percepções distintas a partir do mesmo objeto – a instalação “Bola Sete” no canto da mesa de bilhar (ou da sala) indaga como encaçapar o seu sentido, mas são várias as possibilidades, inclusive a sombra do objeto içado. A multiplicidade de variáveis poderia ser registrada de alguma forma? Talvez caberia na bobina de papel ao lado.

A presença do Obé mais como uma marca é o sentido ritualístico no processo de decifrar. Aqui entra outra ruptura, um decifrar para além da razão instrumental (a mesma que levou ao nazismo mimetizado por um “secretário de cultura”) mas que destrói sentidos porque é pura sedução. O perfil de frente ou costas não é o mesmo lateral da figura mítica da Esfinge porque decifrar é ser devorado pelos traços e cores.


E a energia para dar conta de tudo isto está na instalação central na qual a natureza das folhas se expressa como materialização do axé do subsolo das facas e objetos, da terra viemos e da terra voltaremos


O Obé abre espaços para a construção das nossas trajetórias e construção das subjetividades. Já não se trata de nos definirmos linearmente mas de nos atribuirmos o direito de caminhar construindo nossos caminhos. Que usemos nossas adagas.


Ficha Técnica

Instalação xxx

(Projeto de Exposição)

Artista: Wilton Garcia

Curadoria: Luciano Vitor Barros Maluly

Consultoria: Daniela Kutschat Hans

Produção: Rosa Esteves

Designer: Felipe Parra

Assistente de produção: Jefferson Monteiro

Pintura: LM Produções

Iluminação: T9 Projetos

Montagem: Manuseio

Em exposição na Caixa Cultural de São Paulo (Praça da Sé, 311 – Centro) de 25/01 a 22/03/2020







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